Pelas suas pisaduras fomos sarados. - Isaías 53:5
O pecado habita o nosso ser inteiro. O nosso
coração, a nossa alma e os nossos pensamentos. Nada escapa da influência
negativa dele. As nossas palavras, os nossos gestos, os nossos sonhos, os
nossos olhares, e até a nossa aparência e o nosso modo de ser, viver e
conviver, tudo mostra sinais da influência dele.
Sabemos que ninguém acredita, mas gostamos de
dizer que somos bons, e dizemos isso de muitas maneiras. Adoramos causar uma
boa impressão. Gostamos quando falam bem da gente. A nossa vaidade precisa disso.
Entretanto, em pouco tempo, as nossas palavras e nossas obras, testemunham
contra a nossa suposta bondade. Somos maus, uns mais, outros menos, mas ainda
assim, somos maus. E isso fica claro quando alguém pisa no nosso calo. Sabemos
e não nos iludimos, a nossa mesquinharia aparece por qualquer motivo. Nossa
aparência de bondade é uma mentira que inutilmente nos esforçamos para
esconder. Os atos da nossa espécie testemunham contra nós. Nossa espécie é uma
espécie violenta, demasiadamente violenta. Nossos sorrisos escondem um mundo de
dor, solidão e contradições sem fim.
O fato de acharmos que somos bons, é só mais
uma evidência da nossa imensa cegueira e orgulho. É uma afronta a Deus, o único que é realmente bom.
Qualquer um que ousar contemplar sinceramente o próprio coração, cessará
imediatamente com essa ladainha afirmativa da própria bondade.
Podemos até enganar os mais ingênuos, mas não
enganamos a nós mesmos. No fundo, no fundo, sabemos que tem alguma coisa errada
com a nossa vida. E essa coisa errada é o pecado. E ele não é um problema só
para nós, é também um imenso problema, para quem se arrisca a conviver com nós.
Os nossos passos deixam as marcas profundas dos nossos pecados, pelos lugares e
corações que tocamos. Os conflitos humanos produzem feridas que nenhuma
tempestade tem poder para produzir. Sofremos mais por desencontros humanos, do que por
terremotos.
Às vezes, mas não é sempre, amamos quem nos ama,
mas no geral, a nossa sina é sofrer e fazer sofrer. A nossa vida está cheia de
sofrimentos que poderíamos ter evitado, mas não evitamos. O nosso caráter não
tão santo assim, a ponto de sempre dizer não ao pecado. Na hora da raiva,
ferimos até quem amamos. Claro, para disfarçar as nossas sombras, temos sempre
umas bravatas espirituais para contar. Fingimos que a nossa felicidade é
verdade, e o povo finge que acredita, e todo mundo fica feliz. Seria tão mais fácil
dizer a verdade, mas temos um sério problema com a verdade. É que ela..., nos
desnuda e nos expõe. E não gostamos que vejam a nossa nudez. Tem deformações em
nós, cada uma mais feia do que a outra, que não dá para reparar com fotoshop...
Mas a vida segue, afinal todo mundo é igual e
não há mesmo santos entre nós. Cegos pelo nosso pecado, não sabemos discernir o
nosso próprio espirito. Apesar das evidências contrárias, insistimos na
ladainha de dizer que somos bons, ou no dizer de Sartre: O inferno são os
outros.
Adoramos dizer que somos feitos de poeira das
estrelas, isso excita e estimula a nossa vaidade. Gostamos tanto disso, que
virou moda. Acho que isso é uma forma incosnciente, que encontramos, para nos
sentirmos superiores, ou menos mediocre, sei lá... Poeria das estrelas, isso
soa lindo aos nossos ouvidos. Mas a verdade é somos lama pura. Pelos caminhos
desse mundo, a nossa espécie, desde o começo do mundo, tem deixado um contínuo
rastro de lama, e lama fedorenta, por onde passa. Onde o homem se estabelece,
em pouco tempo, tudo morre e vira concreto, e, como no dizer do profeta Oséias,
a violência prevalece e há morte sobre morte, roubo sobre roubo e traição sobre
traição. Nesse contexto de pecado, o melhor de nós, não passa de um servo
inútil. Um Ló, perdido no meio de Sodoma e Gomorra.
A nossa espécie se ilude muito facilmente. Mas a
verdade é que mesmo uma breve passada de olhos, pela história da humanidade, é suficiente para deixar um gosto
amargo na nossa boca. A história da nossa espécie é uma história de armas,
traições, guerras e rumores de guerras. O tempo todo, o mundo vive à beira de
um colapso. O ser humano é um ser muito cruel. Ele mata e escraviza os mais
fracos e espreita os mais fortes. Ele colhe onde nunca plantou e constrói sobre
fundamento alheio. Todos os seus desejos se ocultam atrás de um desejo maior, o
desejo de poder. Na sua ânsia de poder, ele promove genocídios, campos de
concentração e cobre a terra com escuridão, sombras e ameaças. Do alto do seu
orgulho ele elevou a guerra ao status de arte. Sim, matar é a sua arte
preferida. Toda nação tem a sua arte da guerra. O mundo é um velho louco armado
até os dentes. E a loucura não é só entre nação e nação. Está também dentro das
melhores famílias, onde o pai é contra o filho e o filho é contra o pai. O
mundo é um lugar cheio de goleiro Bruno e Suzane Richthofen.
Em geral, os traumas da mente apresentam uma
característica singular. Os psicanalistas freudianos sabem, a pessoa fala,
fala, acusa, chora, até que no fim, chega no papai e na mamãe. A verdade é que
o mundo está cheio de famílias que são verdadeiros redutos de depravação,
crueldade e maldição. As marcas do nosso pecado estão por toda parte...
Homem, mulher, estado, nação, família e
política, a lista continua só para dizer que tudo que é humano encontra-se
corrompido pelo pecado, inclusive a religião. Nossa espécie é viciada em criar
religiões, ídolos e cultos. Nunca se encontrou um povo, raça ou língua, por
mais primitivo, que não tivesse uma religião e um monte de deuses. Somos
viciados em criar deuses bizarros e cultos violentos. Temos uma tara esquisita
por sacerdotes, pastores e outros intermediários, que supostamente fazem uma
ponte entre nós e o infinito. Nunca gostei de quem se diz homem de Deus. É a
coisa mais rara do mundo encontrar um homem ou uma mulher de Deus, que não
manipule o povo. Mas isso, quer dizer, manipular as pessoas, não é, nem de
longe, uma característica exclusiva
de sacerdotes. Manipular é próprio do
ser humano. Em todo lugar existe algum tipo de manipulação, até no amor. Seja
pela força ou pela manipulação, ou pelos dois juntos, a nossa espécie gosta de
controlar uns aos outros.
Em se tratando da arte de manipular o povo, os
políticos são mestres. Mas lemos no Apocalipse, nos profetas e na história do
mundo, que nessa missão de ferrar todo mundo, os políticos sozinhos, não dão
conta de enganar o mundo todo. Eles precisam da ajuda da religião. Assim, no Velho Testamento, reis e
sacerdotes se unem para explorar o povo. E
no fim dos tempos, o anticristo, que não é bobo, nem nada, tratará logo de
arrumar um falso profeta. Nunca vi um falso profeta que não estivesse pendurado
em algum tipo de poder político. Lamentavelmente, entre os templos e os
palácios, coisa estranha, ou nem tanto, há uma profunda, quase escrevi profana,
relação. Não acredita? Pergunte aos fariseus da época de Cristo. Pergunte a
Constantino. Pergunte a Carlos Magno... Pergunte a Trump... Desde sempre que o
mundo se inspira e adora a Deus, através de atravessadores cheios de segundas
intenções. Em outras palavras, desde sempre que o povo de Deus tem sido massa
de manobra nas mãos de políticos corruptos e falsos profetas. Isso precisa
acabar, Foi para a liberdade que Cristo nos libertou.
Mas voltemos ao centro do nosso assunto. Cega
pelo pecado, enlouquecida por qualquer promessa de redenção, disposta a
sacrifícios bizarros, a nossa espécie olha as obras das mãos do Criador e
confunde tudo, interpreta tudo errado. Inventa ídolos e adora e entroniza no próprio coração, a criatura no
lugar do criador. As eras vem e vão, e continuamos criando os nossos próprios
deuses e redimimos a nós mesmos. Mais um pouco e vamos começar a dizer que
somos deuses... Nietzsche é um caso interessante. Gritou a morte de Deus, depois
se encostou num canto e morreu louco. Nietzsche é um aviso para o nosso mundo.
Sua loucura talvez explique a loucura do nosso tempo.
Todavia, indiferente aos nossos sacrifícios,
ofertas, ateísmos e anúncios da morte de Deus, sob a nossa pele, bem no tutano
dos nossos ossos, continuamos morrendo por causa do nosso pecado. Dia e noite,
como uma força da gravidade, a morte nos atrai para mais perto da sua boca. Com
efeito, pesa sobre nós a sentença que diz que a alma que pecar, morrerá. E
disso, ninguém escapa por força própria. Duvida? Então espere para ver.
Sim, o pecado habita e mata o nosso ser. Ele
habita o nosso olhar e o nosso olhar, meio morto, vê o mundo através do pecado
que o habita, por isso, nós vemos e compreendemos tudo muito opacamente.
Iludidos e contaminados pelo pecado, os nossos olhos só enxergam morte e sombra
de morte, e nossos ouvidos só escutam rumores, por isso, estamos sempre
prevenidos contra algum estranho e ansiosos diante da incerteza do mundo. Cegos
e perdidos na escuridão do nosso pecado, gastamos a vida tropeçando e caindo.
Falamos, quando deveríamos calar. Calamos, quando deveríamos falar. Fugimos,
quando deveríamos lutar. A vida se apresenta a nós como mistério, e nós ouvimos
e compreendemos tudo errado. Sim, não é possível negar, a história da nossa
vida está repleta de mal-entendidos. Somos seres de transgressões e
iniquidades.
No corpo e na alma, estamos feridos pelas
enfermidades, dores e pisaduras das nossas escolhas erradas. A cada passo, uma
ansiedade nos alcança. Qualquer vento balança a nossa confiança. É que temos um
dorso bonito e forte, mas os nossos pés são feitos de barro. Olhamos para trás,
mas não podemos voltar. Desgarrados como um bando de ovelhas perdidas, seguimos
num caminho sem volta, e isso, nos revolta. Ansiamos por uma segunda
oportunidade. Queremos a paz de uma vida livre e abundante. Mas o pecado está
em nós, nascemos nele. E ele não apenas nos cega, ele nos mata lentamente.
Cauteriza a nossa consciência, endurece o nosso coração, e reduz a nossa vida a
uma mera sombra do que poderíamos ser, se fossemos realmente livres.
Olhamos ao redor e os caminhos que vemos estão
cheios de sombras, medos e incertezas. Desemprego, crise mundial, terremotos, violência, rumores de guerras... Os
sinais de um fim que se aproxima ferem a nossa carne e incendeia a nossa consciência. No fundo do nosso
coração, trememos e gememos... Um apocalipse vem ao nosso encontro, e o juízo final o segue. Sabemos que
um dia, querendo ou não, teremos que dar conta de algumas coisas, inclusive das
palavras torpes que falamos. Não é impunemente que vivemos a vida do jeito que
vivemos. Andamos sempre sobre um chão demasiadamente escorregadio, e a nossa
queda definitiva não é uma questão de “se”, é uma questão de “quando”. Qualquer
hora, desabaremos, e não mais teremos forças para levantar e seguir em frente,
isso é certo. O nosso coração anseia por uma salvação.
É aqui, nesse ponto, nessa encruzilhada da
vida, que a nossa cegueira atinge o seu ponto mais alto. Ouvimos rumores de uma
salvação já realizada, mas
não acreditamos. Seria bom demais, para ser verdade. Além do mais, é uma
história mítica demais para merecer a nossa atenção.
Foi há muito tempo, mas parece que foi ontem.
Uma virgem concebeu uma criança e a criança cresceu cheia de sabedoria, diante
de Deus e dos homens. E a criança virou um homem. Olhamos para ele e não
podemos negar. É um homem incrível, mas não nos convence. Fica uma desconfiança
no ar. Afinal, estamos no século 21. E já pisamos na Lua, e estamos de partida
marcada para Marte. E esse Jesus é tão simples. E além do mais, temos Freud e
Jung. Temos hospitais e supermercados, e, o nosso suprassumo de felicidade,
temos shopping. E não existe frustração que uma boa tarde de compras não
resolva. Temos também a ciência moderna, que é um ídolo onipresente e oniciente
do nosso tempo. Temos até um misticismo quântico que explica tudo dessas coisas
espirituais. Esse Jesus carpinteiro, sem querer ofender, está, sei lá, meio
desatualizado para nossa época...E as igrejas, nem me fale, viraram meros
centros de arrecadação de dinheiro, e mais nada. Então, coisa estranha,
cheios de explicações e desculpas fajutas, nós desprezamos a nossa sorte.
Viramos as costas ao nosso salvador. Dizemos que ele é legal, mas que não
possui a beleza necessária para vencer no nosso tempo. Ele não tem charme e é
carente de parecer e formosura. Se fizesse umas plásticas, se implantasse uns
cabelos, se tivesse um horário na TV... Se ensinasse umas meditações, ou
malhasse um pouco. Ele é tão magro...
Viciados em seguir e curtir bobagens de pessoas
superficiais, porém bonitas e charmosas... Projeção das nossas feiuras? Viramos
as costas ao Cordeiro de Deus... Sim, olhe para ele... Não tem diplomas. Não
tem nome. Pior ainda, não tem dinheiro. Que mestre espiritual é esse que não
tem dinheiro? É uma farsa. É tão pobre, que vergonha, dizem que nasceu num
estábulo e foi cuidado numa manjedoura. Não pode ser um salvador, sequer é um
grande homem. É só mais um carpinteiro querendo quinze minutos de fama, e nada
mais. E agora deu para blasfemar. Até a sua família diz que ele perdeu o juízo.
Anda dizendo que é o Filho de Deus... Filho de Deus? Tá bom, vocês vão ver como
esse filho de Deus vai terminar... É melhor se afastar. Veja, aí vem ele. E
então, por hábito, viciados em psicologias de estimulo-resposta, nos juntamos à
turba, catamos uns pães, que não somos bobos, e depois vamos embora. E se ele
se aproxima e fala com nós, logo corremos e dizemos: “Que temos nós contigo, Filho de Deus? Vieste aqui
atormentar-nos antes do tempo? ”
De longe e muito rapidamente, quando ninguém
está olhando, olhamos para ele. Fala sério. Ele não tem nada de especial.
Nenhuma beleza, nenhum encanto. Ele não tem nada que queremos. Nenhuma riqueza,
nenhuma beleza que desperte a nossa atenção e cobiça. Enfiados no meio da
multidão, seguimos o coro, já que todo mundo está gritando, gritamos também:
Crucifica-o! Crucifica-o! Depois olhamos de longe o seu corpo pendurado no
madeiro. Claro que não era Filho de Deus... E seguimos a nossa vida. O que não
sabemos, ou fingimos não saber, é que ele verdadeiramente ele tomou sobre si as
nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por
aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas
transgressões, e esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos
traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
Sim, seguimos com a nossa vida... Mas nada, nunca mais, será como
antes... Um desconforto tomou o nosso coração... Uma culpa paira sobre nós. A
luz do mundo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, andou entre nós, e
nós, cegos para a verdadeira beleza e formosura da vida, não a reconhecemos...
O mundo segue com as suas guerra... E os homens, grandes e pequenos, ainda dormem
e acordam, bêbados e excitados pelo desejo de poder... Mas amanhã, ou depois de
manhã... Talvez aconteça um sinal no céu... Talvez o som estridente de uma
trombeta, nos acorde do nosso sono... Talvez, no derradeiro minuto, como que
acordando de um pesadelo, os nossos olhos se abram... Há porém um risco que nos
persegue... O risco de que, quando tudo isso acontecer de repente, seja tarde
demais para saber e compreender essas coisas... Afinal, o Cordeiro de Deus
andou entre nós, e nós não o reconhecemos.
_VBMello